FALAR apenas o necessário
No teatro, a fala é de longe o veículo mais importante de informação, expressão e ação. Na televisão, a fala prepondera, mas a imagem tem grande importância. No cinema existe ou um equilíbrio entre fala e imagem ou a imagem prepondera - e, em alguns filmes, de modo absoluto. Um monólogo de uma página e meia que, no teatro, arranca aplauso em cena aberta, coloca espectadores de TV a trocarem de canal e espectadores de cinema a dormir. Uma informação que, na TV ou no teatro, iria para a fala, no cinema, muitas vezes, vai para a imagem - para a ação do personagem ou até e apenas para o seu olhar. Vejamos dois exemplos disso.
Em O Poderoso Chefão I, Clemenza vai matar Paulie, Paulie desconfia, Clemenza percebe que Paulie desconfia, solta um comentário leve e lemos na rubrica do roteiro: "Paulie relaxa um pouco. Ele pensa estar livre de ameaça".
E o roteiro de Era uma vez no Oeste, um filme de quase três horas de duração, soma apenas 15 páginas de falas. (Ao que parece, os roteiristas de Era uma vez no Oeste seguiram a recomendação de John Ford, segundo a qual "um filme é bom quando é longo em ação e curto em diálogo".)
No cinema, a imagem é tão importante que alguns produtores chegam a afirmar que um bom roteiro é aquele que narra a sua estória sem o uso de fala - a fala viria como acessório das informações contidas na imagem. É nesse sentido que alguns professores de roteiro recomendam: "Pense visualmente". Essa postura vem apoiada em muitos cineastas, entre eles Alberto Cavalcanti, que afirmou que "resolver uma situação pelo diálogo quando pode ser tratada de maneira puramente visual não passa de lei do menor esforço".
De forma análoga, Alfred Hitchcock deplora narrativas cinematográficas apoiadas em falas de personagens, aos quais pespegou um epíteto que se tornou famoso: "cabeças falantes" (Talking heads). Disse ele:
"Em muitos dos filmes feitos hoje em dia, há pouco cinema. São principalmente o que chamo de 'fotografias de pessoas falando'. Quando contamos uma estória no cinema, devemos recorrer ao diálogo apenas quando não há outra alternativa...Ao escrever um roteiro, é essencial separar de maneira muito clara o diálogo dos elementos visuais e, sempre que possível, se apoiar mais no visual do que no diálogo".
Ao entrevistar Hitchcock, François Truffaut louva a apresentação do filme Janela Indiscreta:
"O senhor abre com o rosto suarento de James Stewart, move a câmera para mostrar a sua perna engessada e, em seguida, numa mesa ao lado, uma máquina de fotografia quebrada, uma pilha de revistas e, na parede, fotos de capotagem de carros numa corrida. Através desse único movimento de câmera, percebemos onde estamos, quem é o personagem principal, qual é o seu trabalho, e até como esse trabalho causou o seu acidente".
Ao que Hitchcock complementa:
"É usar apenas meios cinematográficos para contar uma estória. É bem mais interessante do que ter alguém perguntando a Stewart: "Como foi que você quebrou a perna?", e Stewart respondendo: 'Eu estava tirando fotos numa corrida de carros, a roda de um deles saiu e me pegou' Esta seria a cena comum.Na minha opinião, um dos maiores pecados de um roteirista é dizer, ao topar com alguma dificuldade: "A gente resolve isso com uma fala".
Jonathan Shields (Kirk Douglas), o produtor de cinema, no filme Assim estava escrito (1952), pensa de maneira semelhante.
Fonte: CAMPOS, Flavio. Roteiro de cinema e televisão - A arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma estória. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. P. 188 a 190.
Em O Poderoso Chefão I, Clemenza vai matar Paulie, Paulie desconfia, Clemenza percebe que Paulie desconfia, solta um comentário leve e lemos na rubrica do roteiro: "Paulie relaxa um pouco. Ele pensa estar livre de ameaça".
E o roteiro de Era uma vez no Oeste, um filme de quase três horas de duração, soma apenas 15 páginas de falas. (Ao que parece, os roteiristas de Era uma vez no Oeste seguiram a recomendação de John Ford, segundo a qual "um filme é bom quando é longo em ação e curto em diálogo".)
No cinema, a imagem é tão importante que alguns produtores chegam a afirmar que um bom roteiro é aquele que narra a sua estória sem o uso de fala - a fala viria como acessório das informações contidas na imagem. É nesse sentido que alguns professores de roteiro recomendam: "Pense visualmente". Essa postura vem apoiada em muitos cineastas, entre eles Alberto Cavalcanti, que afirmou que "resolver uma situação pelo diálogo quando pode ser tratada de maneira puramente visual não passa de lei do menor esforço".
De forma análoga, Alfred Hitchcock deplora narrativas cinematográficas apoiadas em falas de personagens, aos quais pespegou um epíteto que se tornou famoso: "cabeças falantes" (Talking heads). Disse ele:
"Em muitos dos filmes feitos hoje em dia, há pouco cinema. São principalmente o que chamo de 'fotografias de pessoas falando'. Quando contamos uma estória no cinema, devemos recorrer ao diálogo apenas quando não há outra alternativa...Ao escrever um roteiro, é essencial separar de maneira muito clara o diálogo dos elementos visuais e, sempre que possível, se apoiar mais no visual do que no diálogo".
Ao entrevistar Hitchcock, François Truffaut louva a apresentação do filme Janela Indiscreta:
"O senhor abre com o rosto suarento de James Stewart, move a câmera para mostrar a sua perna engessada e, em seguida, numa mesa ao lado, uma máquina de fotografia quebrada, uma pilha de revistas e, na parede, fotos de capotagem de carros numa corrida. Através desse único movimento de câmera, percebemos onde estamos, quem é o personagem principal, qual é o seu trabalho, e até como esse trabalho causou o seu acidente".
Ao que Hitchcock complementa:
"É usar apenas meios cinematográficos para contar uma estória. É bem mais interessante do que ter alguém perguntando a Stewart: "Como foi que você quebrou a perna?", e Stewart respondendo: 'Eu estava tirando fotos numa corrida de carros, a roda de um deles saiu e me pegou' Esta seria a cena comum.Na minha opinião, um dos maiores pecados de um roteirista é dizer, ao topar com alguma dificuldade: "A gente resolve isso com uma fala".
Jonathan Shields (Kirk Douglas), o produtor de cinema, no filme Assim estava escrito (1952), pensa de maneira semelhante.
BARTLOW
Jonathan, esta é a minha melhor cena! Você só deixou três falas! Olha, Jonathan, acho que você não entendeu. O menino vai partir, provavelmente vai ser morto. Por isso, quando a mãe fala...
JONATHAN
Ela não fala. Damos um close nela, ela abre a boca, mas não consegue falar. É emoção demais. E a emoção que ela sente, a gente deixa para a plateia imaginar. Acredite em mim, Bartlow, o que eles vão imaginar é muito melhor do que qualquer coisa que a gente escreva.
Fonte: CAMPOS, Flavio. Roteiro de cinema e televisão - A arte e a técnica de imaginar, perceber e narrar uma estória. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. P. 188 a 190.
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